1 de jul. de 2011

Noite púrpura profunda no Recife





        O dia 13 de setembro de 2003 ficou gravado na minha memória por ter sido aquele no qual assisti ao maior show de rock de minha vida. Completando 35 anos de estrada e inaugurando uma nova fase na carreira, o Deep Purple desembarcou no Brasil para cumprir uma das etapas da South America Bananas Tour e apresentar ao público o mais recente álbum da banda, Bananas.


Verdade que já os assistira em 1991 na turnê do desprezível Slaves and Masters, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Naquela ocasião, a banda veio sem vocalista à altura do potencial de seus músicos. Em verdade, Joe Lynn Turner nunca deveria ter integrado a banda. Resultado: show razoável. Dessa vez era diferente. A banda vinha com o vocalista que a consagrou. O fato de Ian Gillan ter voltado já era motivo de comemoração. E comemoração não faltou no trajeto até Recife. De Natal, saíram dois micro-ônibus apinhados de rockeiros, mais uma van e carros particulares. Na única parada, num bar em algum município perdido nos grotões da Paraíba, uma garrafa de vodka já tinha ido para o brejo. Reabasteci com cerveja e aguardente autenticamente paraibana.

Por volta de 19hs daquele sábado invulgar estávamos diante do Classic Hall. Na minha ideia, pensava encontrar fila quilométrica com levas e mais levas de rockeiros gritando palavras de ordem. Nada disso. A fila estava tímida. Aos poucos, o público foi chegando. Já dentro do Classic Hall pude ver um enorme pano preto com o nome Deep Purple servindo de cenário de fundo. Tudo muito simples, como convém a uma banda que não precisa de pirotecnia para tocar rock. O show estava marcado para as 22h, mas não começou no horário. A banda Má Companhia, contratada para esquentar o público, tocou cerca de uma hora e meia sucessos de artistas contemporâneos do Purple. Um horror!  Após a performance da Má Companhia, o público ainda esperou 15 minutos assistindo a um show do Skank, em DVD. Pior impossível.

Quinze mil fãs se acotovelavam na pista, quando soa o alarme e uma fumaça de cor púrpura vai saindo dos teclados de Don Airey. No lado esquerdo do palco, um senhor de barbas brancas aparece trajando jeans, camiseta e uma bandana preta na cabeça. Era o baixista Roger Glover. Em poucos segundos os acordes de “Highway Star” invadiam o local para euforia geral.

Seguiram-se “Woman From Tokyo”, “Lazy” e “Haunted”. Embora a plateia tenha permanecido empolgada durante todo o show, foi durante as execuções de “Smoke On The Water” e “Perfect Strangers” que o Classic Hall pareceu ser frágil para tanta vibração. Ian Gillan estava visivelmente emocionado. Lá para as tantas, Gillan e Airey deixam o palco livre para Steve Morse, Roger Glover e Ian Paice executarem Moby Dick, do Led Zeppelin. O Classic Hall quase veio abaixo.

O Deep Purple tocou poucas músicas do novo trabalho. A apresentação foi basicamente construída com os clássicos. “Hush” veio no finalzinho seguida por “I´ve Got Your Number”,  música de abertura do Bananas, e “Black Night”, que encerrou o show. O refrão da última música acabou tornando-se grito de guerra da audiência. A despeito de todos os comentários maledicentes feitos sobre Purple, o grupo continua fazendo um trabalho competente, sem precisar apelar para excessos. Só a música importa.

No máximo, o que poderia ser considerado “exibicionismo”, ou nem isso, seriam os sintetizadores de Don Airey brindando o público com as melodias das trilhas de O Fantasma da Ópera e Guerra nas Estrelas. O resto foi música de qualidade de uma banda que não está na estrada, há mais de quatro décadas, por acaso.

Paulo Jorge Dumaresq
Jornalista e rockeiro

2 comentários:

Eloi disse...

Eu tava lá. lembro-me bem o começo que a banda já entrou tocando. inesquecível

Paulo Jorge Dumaresq disse...

Realmente foi fantástico, Eloi.