13 de jul. de 2011

UFO abduz Recif



O Recife das "revoluções libertárias", enaltecido nos versos do poeta maior Manuel Bandeira, fez jus ontem (29.05.10) ao epíteto de Capital Nordestina do Rock. O show da lendária banda inglesa UFO, no Sport Club do Recife, não deixou dúvidas. Mas o Leão da Ilha do Retiro estava acabrunhado, vez que perdera por 2x0 para o Bahia pela Série B do Brasileirão.

Ainda fora da "jaula" do Leão, presenciamos, eu, mais 10 natalenses e centenas de rockeiros pernambucanos, torcedores rivais passando com seus carros em frente à sede social do Sport e buzinando em ato de provocação. Certamente torcedores do Náutico e do Santa Cruz. Mal sabiam eles que dali a pouco, não seria o Sport a "entrar em campo", mas, sim, o Rolls-Royce do hard rock, como o UFO ficou conhecido nos gloriosos anos 1970, pelo rock pesado e, ao mesmo tempo, sofisticado, que praticava.

Não deu outra. Pela primeira vez no Brasil para shows em São Paulo, Goiânia, Belo Horizonte e Recife, a banda liderada pelo vocalista Phil Mogg ratificou a alcunha de Rolls-Royce. O quinteto ainda veio com mais dois músicos da formação clássica: o guitarrista base e tecladista, Paul Raymond, e o baterista Andy Parker. Completaram o quinteto, o guitarrista Vinnie Moore e o baixista convidado Rob de Luca.

Luzes apagadas. Começa a festa do rock and roll. A banda entra detonando com "Let it Roll". Depois desse petardo, o que se (ou)viu foi um rosário de clássicos, tais como "Mother Mary", "Out in the Streets", "This Kids", "Only You Can Rock Me", "Love to Love", "I Ain't no Baby", "Too Hot to Handle", "Lights Out" e "Doctor, Doctor". Terminado o show, o público estimado em mil rockeiros brada: U-F-O! U-F-O! U-F-O! A banda não resiste aos apelos. Volta para o bis e dispara os mísseis "Rock Bottom", com sua longa improvisação de guitarra, e "Shoot Shoot". A essa altura, Recife já havia sido abduzida pelo UFO.

O destaque do show foi, sem dúvidas, o guitarrista Vinnie Moore, que executou à perfeição os clássicos criados pelo gênio alemão Michael Schenker, guitarrista que deixou a banda em 1980. O baterista Andy Parker, não obstante os cabelos brancos e as rugas de expressão, segurou firme o ritmo da "nave-mãe", tocando feito um adolescente. Já o vocalista Phil Mogg, continua com o vozeirão de sempre, mas teve sua performance prejudicada pelo péssimo som do microfone. Em pleno Século 21, é inconcebível haver microfonia em show. Isso ficou há muito para trás.

É importante esclarecer que o UFO não é uma banda de heavy metal e, sim, de hard rock, que corresponde ao rock pesado da década de setenta. No heavy metal, os temas, a estética musical e o visual são outros. Nem por isso, o UFO deixou de influenciar bandas de heavy metal, como a também inglesa Iron Maiden.

Bacana ainda foi a presença de crianças, adolescentes e adultos de várias gerações no show. Todos com seus jeans e suas camisetas estampando alguma banda de rock dos anos 60, 70 e 80. Porque rock é igual a vinho: quanto mais velho melhor. O UFO que o diga. O show também ocorreu tranquilíssimo. Nada maculou a gloriosa noite dedicada ao rock britânico da melhor excelência. Valeram demais as horas na desconfortável Sprinter e na "jaula" do Leão macambúzio. Agora, a banda parte para dois shows na Alemanha, em julho, e um terceiro na Inglaterra, no mesmo mês. Good luck, UFO! E pé na estrada sempre. Câmbio. Publico.

Nota: O texto em questão não é inédito, como percebido. Foi publicado no meu blog narizdedefunto.blogspot.com, em 30 de maio de 2010. No lugar de outro texto mais atual e contextualizado, segue este. É minha singela homenagem ao Dia Mundial do Rock, comemorado hoje no Hell's Pub. Há muito o rock faz parte da minha vida. Precisamente há 36 anos. Nada mais justo que desejar LONG LIVE ROCK AND ROLL ao gênero musical que mudou a face do planeta e a minha vida.
Paulo Jorge Dumaresq
Jornalista

1 de jul. de 2011

Noite púrpura profunda no Recife





        O dia 13 de setembro de 2003 ficou gravado na minha memória por ter sido aquele no qual assisti ao maior show de rock de minha vida. Completando 35 anos de estrada e inaugurando uma nova fase na carreira, o Deep Purple desembarcou no Brasil para cumprir uma das etapas da South America Bananas Tour e apresentar ao público o mais recente álbum da banda, Bananas.


Verdade que já os assistira em 1991 na turnê do desprezível Slaves and Masters, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Naquela ocasião, a banda veio sem vocalista à altura do potencial de seus músicos. Em verdade, Joe Lynn Turner nunca deveria ter integrado a banda. Resultado: show razoável. Dessa vez era diferente. A banda vinha com o vocalista que a consagrou. O fato de Ian Gillan ter voltado já era motivo de comemoração. E comemoração não faltou no trajeto até Recife. De Natal, saíram dois micro-ônibus apinhados de rockeiros, mais uma van e carros particulares. Na única parada, num bar em algum município perdido nos grotões da Paraíba, uma garrafa de vodka já tinha ido para o brejo. Reabasteci com cerveja e aguardente autenticamente paraibana.

Por volta de 19hs daquele sábado invulgar estávamos diante do Classic Hall. Na minha ideia, pensava encontrar fila quilométrica com levas e mais levas de rockeiros gritando palavras de ordem. Nada disso. A fila estava tímida. Aos poucos, o público foi chegando. Já dentro do Classic Hall pude ver um enorme pano preto com o nome Deep Purple servindo de cenário de fundo. Tudo muito simples, como convém a uma banda que não precisa de pirotecnia para tocar rock. O show estava marcado para as 22h, mas não começou no horário. A banda Má Companhia, contratada para esquentar o público, tocou cerca de uma hora e meia sucessos de artistas contemporâneos do Purple. Um horror!  Após a performance da Má Companhia, o público ainda esperou 15 minutos assistindo a um show do Skank, em DVD. Pior impossível.

Quinze mil fãs se acotovelavam na pista, quando soa o alarme e uma fumaça de cor púrpura vai saindo dos teclados de Don Airey. No lado esquerdo do palco, um senhor de barbas brancas aparece trajando jeans, camiseta e uma bandana preta na cabeça. Era o baixista Roger Glover. Em poucos segundos os acordes de “Highway Star” invadiam o local para euforia geral.

Seguiram-se “Woman From Tokyo”, “Lazy” e “Haunted”. Embora a plateia tenha permanecido empolgada durante todo o show, foi durante as execuções de “Smoke On The Water” e “Perfect Strangers” que o Classic Hall pareceu ser frágil para tanta vibração. Ian Gillan estava visivelmente emocionado. Lá para as tantas, Gillan e Airey deixam o palco livre para Steve Morse, Roger Glover e Ian Paice executarem Moby Dick, do Led Zeppelin. O Classic Hall quase veio abaixo.

O Deep Purple tocou poucas músicas do novo trabalho. A apresentação foi basicamente construída com os clássicos. “Hush” veio no finalzinho seguida por “I´ve Got Your Number”,  música de abertura do Bananas, e “Black Night”, que encerrou o show. O refrão da última música acabou tornando-se grito de guerra da audiência. A despeito de todos os comentários maledicentes feitos sobre Purple, o grupo continua fazendo um trabalho competente, sem precisar apelar para excessos. Só a música importa.

No máximo, o que poderia ser considerado “exibicionismo”, ou nem isso, seriam os sintetizadores de Don Airey brindando o público com as melodias das trilhas de O Fantasma da Ópera e Guerra nas Estrelas. O resto foi música de qualidade de uma banda que não está na estrada, há mais de quatro décadas, por acaso.

Paulo Jorge Dumaresq
Jornalista e rockeiro